Maternidade

Especialista em aleitamento materno dá dicas sobre sono do bebê

Especialista em aleitamento materno

A Equipe do Tudo Ela convidou a Rose Quadros, especialista em aleitamento materno e laserterapia para falar um pouco sobre as principais dúvidas e queixas que suas clientes têm em relação à amamentação, o sono do bebê e também como acalmá-lo.

Confira o artigo e tire suas dúvidas!

Veja também: Infográfico: Guia prático para amamentação.

Amamentação, sono e acalanto

Especialista em aleitamento materno Rose Quadros

Rose Quadros – Especialista em aleitamento materno


Olá!

Sou sou Rose Quadros, enfermeira especialista em aleitamento materno e laserterapia, proprietária do Instituto Amamentar e mãe da Clara. Ministro cursos e palestras presenciais e virtuais, além de prestar atendimento em consultório e home care.

Recebo muitos relatos de mães angustiadas com medo de amamentar para fazer o bebê dormir ou para confortá-lo em alguma situação de estresse e durante uma crise de choro. Essa prática é, na verdade, extremamente benéfica, saudável, normal e apropriada para o desenvolvimento.


A maioria dos bebês mama para dormir e acorda de 1 a 3 vezes durante a noite durante o primeiro ano de vida ou por mais tempo. Em períodos de picos ou saltos de crescimento o neném costuma acordar até mais do que 3 vezes durante a noite. Há os bebês que não fazem isso, é verdade.

Mas eles são a exceção à regra, e não o contrário. Pesquisas comprovam que a maioria das crianças, se for dada a opção, preferem mamar para dormir até o segundo ano de vida ou mais. E confesso que por mais que eu estude e converse com colegas que são referência na área de aleitamento, nunca encontrei uma razão convincente para que as mães não usem essa maravilhosa ferramenta que nos foi dada.

Está claro para a comunidade científica que a amamentação foi projetada não só para alimentar a cria, mas também, e principalmente, para confortá-la e ajudá-la a aprender a dormir. Esse inclusive, é um dos motivos pelos quais a amamentação vem sendo amplamente recomendada, defendida e protegida atualmente.

Pesquisas na área da psicologia demonstraram que bebês que esgotam a fase oral completamente no seio da mãe, interrompendo a amamentação no momento em que eles acharem conveniente, se tornam adultos mais equilibrados e com maior capacidade de autocontrole emocional.

A amamentação acalma a criança e pode até ajudar seu filho a lidar melhor com o estresse quando não está amamentando. A sucção libera o hormônio colecistoquinina (CCK) tanto na mãe quanto no bebê, causando uma leve sonolência e relaxamento.

Além disso, o leite materno contém outros hormônios indutores de sono, aminoácidos e nucleotídeos, cujas concentrações são mais altas durante a noite, o que pode realmente ajudar os bebês a estabelecerem seus próprios ritmos circadianos.

Se amamentar seu filho para dormir e / ou para confortá-lo está funcionando bem para você e sua família, excelente! É isso que realmente importa! Seu peito é um lugar maravilhoso de conforto e segurança para seu neném, não apenas um “prato feito para encher a pança”. O tempo gasto com a amamentação é um período muito curto na vida total de seu filho, mas as memórias de seu amor e disponibilidade vão durar uma vida inteira.

Esteja certa de uma coisa: seu filho vai adormecer sozinho no tempo dele, e respeitar esse tempo e muito importante para a construção de uma personalidade segura e tranquila. Aproveite para desfrutar de cada segundo em que ele ainda deseja seu colo, você sentirá muitas saudades desse tempo.

Especialista em aleitamento materno Rose Quadros

“Meu neném está fazendo meu peito de chupeta!”

Isso é chamado de sucção não nutritiva e é super importante para garantir a regulação da produção de leite pelo corpo da mãe de acordo com as necessidades do seu bebê, bem como para satisfazer as necessidades orais do bebê. Esse comportamento é normal e saudável.

Se o bebê não sugasse o seio como forma de conforto, ele precisaria um substituto. O peito foi a primeira chupeta e até hoje não existe EM NENHUMA PARTE DO MUNDO, chupeta, chuquinha, mamadeira, cujo modelo ou material se aproxime ao seio materno. Se você viu isso em algum lugar, tenha certeza de que se trata de propaganda enganosa.

Todos os bebês precisam sugar – alguns mais do que outros. Se seu bebê parece precisar sugar o tempo todo e tem sido difícil para você lidar com isso, tente se lembrar de que essa fase de alta demanda vai passar. Enquanto isso, o uso de slings e carregadores de bebê podem te ajudar sobremaneira, já que o bebê ficará o tempo todo pertinho de você.

Estudos parecem indicar que a sucção no seio diminui a os batimentos cardíacos do bebê, por isso ele relaxa. A sucção parece ter um efeito muito positivo em todo o seu bem-estar físico e emocional. Por tudo isso, não tenha medo de permitir esse tipo de sucção. Seu bebê vai te agradecer muito no futuro!

Estou criando um mau hábito, permitindo que o bebê mame para dormir?

Todo bebê deseja mamar para pegar no sono, não é um mau hábito que você promoveu. Por instinto o bebê procura o peito quando está sonolento ou quando foi super estimulado, na tentativa de voltar ao equilíbrio. Ele sabe o que precisa e onde conseguir e o seio é esse lugar reconfortante e familiar para ele.

Associar a mama com o desejo de relaxar o suficiente para dormir faz todo o sentido. Como adultos, também fazemos coisas para nos ajudar a pegarmos no sono: lemos, assistimos televisão, bebemos algo quente, fazemos um lanche, respiramos profundamente, ficamos todos confortáveis ​​sob as cobertas, etc.

A amamentação faz o mesmo para seu bebê. Seu filho não mamará para sempre, isso é certo. No tempo dele, da sua natureza, ele aprenderá a dormir sozinho, se ele for respeitado e atendido em suas necessidades básicas principalmente nesse início da vida.

A questão do sono não é meramente uma questão de bons ou maus hábitos. É muito mais uma questão cultural, de estilo de vida e de expectativas. Aqui estão três abordagens comuns para questões parentais:

  1. Forçar o bebê a mudar para se adequar ao estilo de vida dos pais. A cultura ocidental tende a não ser muito amigável com bebês, e raramente favorece a adaptação da rotina dos pais de acordo com as necessidades do neném. Ao contrário, a tendência atual, vista em muitos livros populares e revistas sobre parentalidade, é forçar o bebê a se adaptar à rotina dos pais, de modo que nós experimentamos relativamente poucas mudanças em nosso estilo de vida de antes dos filhos. Por exemplo, o bebê DEVE dormir durante a noite toda para que possamos obter o sono ininterrupto e um bebê “bom” é visto como aquele que exige o mínimo possível de seus pais. Veja aí a vasta literatura nesse sentido, como por exemplo livros indicando como “ensinar” um recém-nascido a dormir 12 horas ininterruptas.

  1. Deixar a cargo dos pais do bebê todo o cuidado referente ao recém-nascido. Essa prática, infelizmente, também é muito popular atualmente. A sociedade atual da forma que se organiza não favorece que as pessoas tenham tempo disponível para cuidar de seus familiares. É raro que recém pais contem com rede de apoio, ou porque moram longe da família, ou porque todos os familiares trabalham muito. Nessa abordagem o nível de estresse do novo núcleo familiar (incluindo o bebê) é altíssimo, o que influencia sobremaneira na saúde física e mental do neném, bem como no sono de todos e no estabelecimento da amamentação.

  1. Oferecer aos pais o máximo de acolhimento possível, para que assim eles possam se dedicar a suprir a alta demanda de um recém-nascido. Organizar uma rede de apoio que cuide de todo o resto para que os pais se dediquem ao bebê seria a situação ideal. Se não for possível, que ao menos a mãe seja poupada. Ela precisa ser cuidada, receber alimento, água, ter tempo para cuidar de suas próprias necessidades básicas para que assim possa se dedicar inteiramente aos cuidados do bebê. Todo o resto (casa, contas, comida, etc.) deve ficar a cargo de outras pessoas. O ideal ainda é que essa rede de apoio não interfira nas decisões dos pais, respeitando completamente as escolhas feitas pela nova família. A rede está ali para apoiar e cuidar de todo o entorno. A parentalidade deve permanecer sob exclusividade dos pais. Essa tem sido a abordagem que mais funciona e traz satisfação e bem estar físico e emocional para todo o núcleo familiar.

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Que tal deixar o bebê chorar?

Há duas linhas de pensamento sobre o sono dos bebês. Uma delas segue um método bastante rígido de “treinamento do sono”, onde um bebê é colocado acordado em um berço e deixado chorando sozinho para que ele “aprenda” a se auto confortar, sob a justificativa de não desenvolver associações de sono que exigem que alguém para fazê-lo dormir.

Esse método é conhecido como cry-it-out. Há variações desse método, como a que permite que o bebê chore por períodos progressivamente mais longos sem confortá-lo, em vez de apenas deixá-lo chorar até ele desistir e parar.

Eu não recomendo o método cry-it-out em hipótese alguma, independente da natureza do bebê. Qualquer pessoa que aconselha você a deixar seu bebê chorar até ele desistir e adormecer está se concentrando no comportamento do bebê (vai dormir sozinho) e não em como o bebê se sente no processo, ou nas consequências deixadas pelo método.

Na minha opinião e na de vários pesquisadores da área, o “treinamento do sono” expõe um cérebro extremamente imaturo em conexões neuronais e incapaz de estabelecer causa e consequência, a uma chuva de hormônios do estresse, como a adrenalina e o cortisol.

Essa chuva de hormônios se frequente, lesiona permanentemente o cérebro, debilitando a área relacionada ao controle emocional. O bebê para de chorar não porque aprendeu a se auto confortar, mas sim porque aprendeu que não adianta chamar, não há quem o ajude.

Isso é desamparo em seu mais alto grau, e o que é pior, direcionado a um ser completamente dependente, que não tem outra escolha se não viver como lhe é determinado.

Além disso, esse método muitas vezes cria uma atitude insalubre a respeito do sono: depois de passar por este “treinamento”, o bebê tende a ver o sono como um momento perigoso e ameaçador, já que durante o processo ele é exposto a períodos de extremo estresse, semelhantes ao que acontece em um cérebro adulto durante um episódio de pânico, por exemplo.

O bebê mais jovem, em particular, não tem esse senso de “permanência do objeto” e se a mãe o deixa para chorar, ele não é capaz de se dar conta de que ela está apenas no quarto ao lado. O que ele entende é que foi abandonado e que sua mãe não está lá. O único recurso que ele tem para comunicar suas necessidades é o choro.

Um bebê que é deixado para chorar sozinho acabará por parar de chorar, porque ele abandonou toda a esperança de que a ajuda virá: ninguém se importa o suficiente para ouvir, ou vir e proporcionar conforto.

No livro Our Babies, Ourselves: How biology and culture shape the way we parent, a professora de antropologia Meredith Small escreve:

“Quando os sinais não são atendidos, os bebês deixam de sinalizar; eles se retiram; eles chupar seus polegares; eles se afastam; eles tentam corrigir o problema eles mesmos, não enviando mais sinais “.

O bebê se protege e se fecha em seu próprio mundo, “aceitando” a situação porque aprendeu que não receberá resposta ao seu chamado.

Chorar é também fisicamente desgastante para o bebê: pode levar a rouquidão que pode durar dias; o sistema digestivo se perturba; há vertiginoso aumento dos hormônios de estresse; a frequência cardíaca pode subir para níveis acima de 200 batimentos por minuto e o nível de oxigênio no sangue é diminuído.

Veja também: Sono do bebê: um guia imperdível para mães de primeira viagem.

Mas então, o que fazer?

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Outra escola de pensamento, que é a que eu no Instituto Amamentar e vários profissionais indicam, desencoraja a visualização do sono como uma habilidade a ser aprendida pelo bebê de maneira forçada.

Em vez disso, o ideal é estabelecer uma rotina flexível de sono, que compreende fazer as mesmas coisas na mesma sequência em horários similares todos os dias. Diminuir as luzes e sons da casa, preparar um ambiente aconchegante, retirar as roupas do bebê, fazer uma massagem e dar um banho relaxante é uma boa pedida.

Com o bebê relaxado, você pode amamenta-lo e transferi-lo para o berço após ele dormir ou quando ele ainda estiver sonolento, se já for um bebê maior. Se ele desperta ao ser retirado do colo significa que ainda precisa de você, o melhor para você e para ele é atendê-lo.

O processo de aleitamento materno regula a temperatura do bebê, a frequência cardíaca e diminui a pressão arterial, deixando o neném sonolento. Isso ajuda seu bebê a desenvolver uma atitude saudável em relação ao sono, na qual ele vê o sono como um estado seguro, reconfortante e natural.

Veja ainda: Teoria da extero gestação: 10 dicas essenciais para acalmar o bebê nos primeiros meses.

Mas se eu não ensinar, como meu neném vai aprender a dormir sozinho?

As crianças que amamentam geralmente adormecem bem mais rápido. Pense comigo: como algo tão perfeitamente concebido pode ser preocupante? Após muito ler sobre o tema e trocar experiências tanto com mães quanto com colegas, percebi que adormecer sem mamar é um marco de desenvolvimento que seu filho alcançará quando estiver pronto.

O primeiro passo muitas vezes vem quando seu bebê começa a mamar para dormir, em seguida, para de mamar, rola e adormece sozinho. Ou talvez ele vai adormecer nos braços do pai quando ele está caminhando com o bebê.

Isso pode ser pouco frequente no início, mas são os primeiros sinais e ajudam a você perceber que é possível para o seu filho a adormecer por si mesmo. Confie na natureza, acolha seu bebê sempre que ele precisar e respeite o tempo dele. Os benefícios serão a longo prazo, mas serão também maiores e mais duradouros.

Eu espero sinceramente que esse texto tenha te ajudado!

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Beijo grande!

Sobre o autor

Mariana Mendes