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Filho mimado: saiba porque ensinar a lidar com frustrações é essencial

Quando pensamos em filho mimado já nos vêm na cabeça a imagem daquele ser detestável e manipulador. Quer tudo na hora e do seu jeito. Caso as exigências não sejam atendidas fará de tudo para conseguir o que quer. E se tratando de uma criança, as maneiras de conseguir não variam muito, tendem a se limitar a chorar e gritar. Resumindo: birra.

É verdade que a fase entre os 2 e os 4 anos, mais ou menos, é a mais crítica para os pequenos em relação à birra. O período da vida onde o ser humano aprende a se comunicar e lidar com as emoções ao mesmo tempo não é nada fácil. Ainda mais porque é nesse momento da existência que é preciso aprender a lição vital para o bem estar emocional: lidar com frustrações.

Com certeza você já ouviu a frase “Criança não tem que querer” ou “ABC é importante, mas o melhor mesmo é OBDC”. Esses ditos populares são típicos da geração de pais anterior a nossa que tinha um método de criação mais rígido e menos democrático, digamos assim.

Nos dias de hoje, quando bater em crianças já não é uma prática comum e conseguimos reconhecer que esses seres humanos pequeninos também possuem direitos, a tarefa de criá-los se torna quase uma cilada: por pouco você pode variar entre uma mãe ditadora e uma mãe permissiva demais. Como encontrar o caminho do meio?


Vamos conversar um pouco sobre a criação dos filhos? Saiba a importância de lidar com as frustrações para seu filho e veja algumas maneira de ajudá-lo nessa tarefa imprescindível.

O que é lidar com frustrações e por que ela é tão importante?

A frustração acontece quando uma expectativa criada se despedaça. É quando percebemos que as coisas não saíram exatamente da forma como imaginávamos. O famoso “quebrar a cara” ou receber um “banho de água fria”.

Adultos possuem dificuldades de lidar com decepções, isso faz parte de um aprendizado da vida. Com certeza você já se pegou sofrendo com o fim de um relacionamento ou decepcionada com a atitude de algum amigo querido. Cada insatisfação que passou ao longo de suas vivências contribuíram para construção de uma maior resistência a elas, certo? Existe uma palavra muito na moda hoje em dia para nomear isso: resiliência.


Porque exigimos então que as crianças sejam experts em algo que penamos tanto para conseguir?

Para a criança, um brinquedo que quebra pode ser motivo para uma grande desilusão. Porque ela ainda não tem muita experiência em lidar com seus sentimentos negativos. E também porque ela não sabe muito bem expressar o que sente. Ainda há um longo caminho pela frente.

Não se trata de evitar que a criança se desaponte para que ela não sofra. Na realidade, isso será muito mais danoso! Crianças que não exercitam a resiliência se transformam em adultos impacientes e inquietos com grandes chances de desenvolverem depressão e transtornos de ansiedade.

Nós estamos falando aqui de ensinar a criança, a ajudá-la a lidar com cada desencanto com carinho e compreensão. Já pensou se você tivesse recebido um suporte desses? Quem sabe algumas feridas não teriam cicatrizado mais facilmente, não é mesmo?

Como lidar com a frustração?

Ensinar seu filhote ou qualquer outra pessoa (criança ou adulto) a lidar melhor com suas frustrações é uma maneira de fazer o bem ao próximo e transformar o mundo num lugar melhor. E como é de se esperar de tarefas desse calibre, está mais para um grande desafio do que para uma receita pronta. O que vamos ver aqui são alguns pontos a se pensar na hora de lidar com as crises emotivas da sua cria e de qualquer outra pessoa. Vamos lá?

1. Siga o mestre

Você se lembra desta brincadeira? Pois é, ela resume boa parte da educação infantil, especialmente na primeira infância (até os 6 anos de idade). A criança aprende pelo exemplo. Então, antes de julgá-la, que tal dar uma revisada na maneira como os adultos ao redor dela lidam com seus fracassos? Olhar para si e rever suas atitudes é algo muito difícil. Muita gente se nega a fazer isso. Só que ignorar um problema não faz com que ele desapareça. Então saiba que vai incomodar e doer, mas fará muito bem à você e sua família no final das contas.

2. Não é não

A frase ficou conhecida na boca das feministas. Mas também faz muito sentido para a criação dos filhos. Quando algo é nagado à criança e depois cedido mediante birra, o que você está ensinando para ela? Que precisa fazer birra para conseguir o que quer. Então, quando disser não para seu pequeno, vá até o fim. Isso vai ajudá-lo a entender que quando você diz que algo não pode, aí não adianta espernear, o jeito será lidar com o desgosto.

3. Separe o sentir do agir

Quando somos tomados por um sentimento que não conseguimos administrar, uma reação automática é expressar-se por meio de ações. O problema é que quando fazemos isso de maneira impulsiva, tendemos a fazer coisas das quais, na maioria dos casos, não nos orgulharemos no futuro. A criança que age de maneira violenta quando está desapontada está agindo sem pensar. Que tal dizer isso para ela? Dê nome ao sentimento que ela provavelmente sente e diga que ela está agindo assim para dar vasão a ele, mas que existem outras formas mais saudáveis de fazer isso.

4. Respira fundo

Conta até dez, cante uma música, use um hand spinner, enfim, quando a coisa ficar tensa, encontre maneiras de se acalmar antes de falar com a criança. Pode até explicar para ela: “Agora estou muito chateada e não quero falar com você”. Depois de alguns minutos você volta. Aos poucos, oriente que ela faça o mesmo quando estiver irritada. Quanto mais treino, mais fácil vai ficar. Uma hora você vai tirar de letra (e o pequeno também, só que demora um pouco). Até lá: paciência.

5. O show depende da plateia

Digamos que você já disse não, já explicou que a atitude violenta é resultado de um sentimento ruim e já mostrou outras formas para a criança se acalmar e não deu certo. O show continua cada vez mais dramático… Que tal dar um tempo? Sem plateia o show perde o sentido. Depois que o pequeno descer do palco da birra, aí vocês podem conversar melhor.

A esta altura você já deve ter notado que impor limites para as crianças e ensinar-lhes e lidar com a frustração exigem de nós certo treino. Principalmente se pensarmos que seu filho não vai mudar de uma hora para outra e você precisará lidar com suas expectativas em relação ao comportamento dele.

Criar os filhos não é algo tão simples como pensamos. Mas pode ser uma oportunidade e tanto para nos tornarmos pessoas melhores. Basta ter resiliência. No fim das contas, não podemos exigir deles algo que não sabemos fazer, não é?

Fique à vontade para compartilhar com a gente sua opinião sobre birra, frustrações e filhos mimados!

Fizemos uma entrevista com o Dr. Daniel Becker, pediatra com mais de 20 anos de experiência. Ele nos deu várias dicas sobre como agir nos momentos críticos. Dá o play!

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Sobre o autor

Mariana Mendes