Maternidade

O que é fórceps? Entenda essa ferramenta usada no parto normal

O fórceps é uma ferramenta que auxilia o bebê a sair da barriga da mãe. Ele não é muito bem quisto por muitos profissionais que defendem o parto humanizado, pois pode causar lesões da mãe e no bebê.

Mas é bom saber que, quando bem utilizado, assim como qualquer outra ferramenta médica, o fórceps pode salvar vidas.

Se você está grávida e quer saber mais sobre o fórceps, continue lendo, porque vou explicar mais sobre esse instrumento centenário da obstetrícia e também vou apresentar quais são as opções mais modernas à essa ferramenta.

O que é o fórceps, afinal?


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Então vamos começar entendendo mais sobre o fórceps. Ele é um instrumento pouco simpático, como você pode ver nessa imagem acima. Mesmo que existam mais de 700 tipos de fórceps diferentes, eles não são muito agradáveis, e talvez nem tanto por seu formato, mas porque sua utilização está relacionada a complicações no parto normal.

O fórceps possui uma história curiosa. Há indícios de que algo parecido com esse instrumento já era usado na Índia, há cerca de mil anos atrás. Ele apenas era usado nos casos em que acontecia o pior e era preciso retirar o feto da barriga da mãe para salvar sua vida.


Na Europa do século XVI, uma família de parteiros inventou a primeira versão do fórceps como o conhecemos hoje. Os Chamberlen, como eram conhecidos os membros dessa família, inventaram e aperfeiçoaram essa ferramenta que, pasme, foi mantida em segredo por eles por mais de 100 anos! Para manter o sigilo, era comum que os membros da família, na hora do parto, cobrissem a gestante com um lençol, que era amarrado ao pescoço do parteiro, como nessa gravura aqui:

Dá para acreditar? Bizarro, né?

Enfim, foi apenas no final século XVI, depois que o obstetra William Smellie fez algumas adaptações, que o fórceps passou a ser usado sem segredo no parto das mulheres. No início do século XX, antes ainda da cirurgia cesariana se popularizar, ele era usado em cerca da metade dos partos.

Hoje em dia, o uso do fórceps diminuiu muito por vários motivos. Primeiro porque a maioria dos profissionais não possui muita familiaridade com o uso dessa ferramenta. Em segundo lugar porque os casos em que ela é realmente necessária foram delimitados e percebeu-se que não são muitos.

Quando o fórceps é usado?

O fórceps é usado, basicamente, apenas em casos em que há sofrimento fetal e/ou risco de morte para a gestante. Mas, para usá-lo também é preciso que a gestante já esteja no período expulsivo do trabalho de parto, que é a fase final de todo o processo, quando o bebê está prestes a sair pelo canal vaginal.

O fórceps funciona como uma pá de tração do bebê, prendendo sua cabeça, girando o corpo e retirando-o do útero. Veja uma imagem ilustrativa:

Parece meio agressivo, não é? Pois é, falaremos disso mais adiante.

Para ser usado o fórceps,  são necessários alguns outros pré-requisitos no trabalho de parto:

  • anestesia local na gestante;
  • grávida com a bexiga vazia;
  • dilatação completa;
  • bolsa estourada;
  • bebê com a cabeça posicionada corretamente;
  • proporção aceitável entre a cabeça do bebê e a pelve da mãe;
  • cabeça do bebê “coroando”, como já dissemos;
  • episiotomia na gestante.

O parto com uso do fórceps é considerado um parto normal cirúrgico. Deve ser realizado sempre num ambiente preparado para uma cesárea de emergência. O ideal é que o médico faça três tentativas para retirar o bebê e caso não obtenha sucesso, deve partir para outras opções.

É dever da equipe médica sempre explicar para a gestante a situação e propor a utilização do fórceps como uma opção. Em casos de risco de morte para a mãe e/ou para o bebê há também a opção da cesariana.

Nos casos em que o período expulsivo está se prolongando muito, mas não há riscos, é possível aguardar o andamento natural das coisas. Existem casos de mulheres que optam por aguardar e conseguem o tão sonhado parto natural.

O essencial, além de qualquer coisa, é a gestante estar informada e tomar a decisão junto com a equipe médica, afinal, mesmo que não seja formada em medicina, se trata do corpo dela. Por isso também é muito importante isso que você está fazendo: mantendo-se informada.

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É verdade que ele machuca o bebê e a mãe?

Lembra quando eu perguntei se você achou o uso do fórceps algo agressivo? Essa ideia não vem apenas da sua imaginação. Acontece que, como era largamente utilizado, ele frequentemente era usado sem a indicação correta, o que causava várias complicações no pós-parto para o bebê.

É obvio que, em comparação com um parto normal sem intervenções cirúrgicas, o fórceps sempre trará mais danos. Nos casos em que é usado indevidamente, pode causar traumas no crânio do bebê que podem causar sequelas para a vida. Na mãe também é possível ocorrer danos no músculo do ânus, o esfíncter anal, e causar incontinência fecal. São casos extremos em que o procedimento não é indicado corretamente ou o médico não possui experiência no uso dessa ferramenta.

E aqui entramos em uma contradição. Se o uso do fórceps exige experiência para que ele não cause lesões e outros danos à mãe e seu bebê, como o obstetra aprenderá a usá-lo? Ninguém aprende a usar uma ferramenta apenas olhando, certo? Por isso é sempre bom perguntar sobre a experiência do médico antes de decidir. Concorda?

Independente dessas questões, o mais complicado no parto instrumentalizado com fórceps é a necessidade da episiotomia, porque mesmo que tudo seja feito corretamente, ainda assim haverá um corte que levará pontos e precisará de mais tempo para a recuperação.

Veja este artigo que explica tudo sobre a episiotomia, o famoso corte para facilitar a saída do bebê.

Alternativas ao fórceps:

Fora a cesárea, que é a alternativa mais comum ao fórceps, existem outros instrumentos usados no parto normal instrumentalizado. Hoje vou falar um pouco de cada um deles: as espátulas, vácuo extrator (ou ventosa) e o mais recente OdónDevice.

Cada instrumento possui um uso específico e cabe à equipe médica, se tiver a preparação necessária e a situação adequada, conversar com a gestante sobre as opções.

Espátulas:

As espátulas são parecidas com o fórceps, porque também são de metal. Elas não possuem as articulações do fórceps e isso faz com que elas sejam usadas de maneira mais independente entre si.

As espátulas não conseguem prender e puxar o bebê com a mesma eficiência, por isso são mais indicadas para casos em que é preciso pouco esforço para tirar o bebê ou em casos de bebê pequeno. Sua ação é menos agressiva e incômoda do que o fórceps, mas ainda assim há anestesia.

Vácuo Extrator ou Ventosa:

Sim, ela parece um desentupidor caseiro. A diferença é que ela possui acoplada a ela um aparelho que reproduz o vácuo e é específico para prender a cabeça do bebê que já está “coroando” e não consegue sair. O médico deve puxar o bebê enquanto a gestante faz força para que ele saia durante o período expulsivo. Ou seja, ele é mais leve e delicado em sua ajuda e os danos à mãe são bem menores.

Assim como o fórceps (e todos os instrumentos médicos, diga-se de passagem) é preciso que seja indicado corretamente, conversado com a mãe e que o médico domine o uso dele.

OdónDevice:

Criado por um mecânico argentino chamado Jorge em 2005, o OdónDevice usa uma sacola plástica junto com um instrumento que combina características do fórceps e da ventosa para ajudar a retirar o bebê sem causar lesões no canal vaginal da gestante.

O instrumento foi testado em 30 partos de mulheres argentinas, seu inventor presenciou os partos e fez as modificações necessárias. Ele foi aprovado e possui um custo de cerca de U$ 50 dólares.

Veja um exemplo da utilização dele:

Ele ainda não chegou no Brasil, mas cá para nós, seria maravilhoso poder contar com um aparelho que não vai nos machucar.

E aí, o que achou do fórceps? Prefere as alternativas à ele?

Em nossa seleção de relatos de parto tem um com o uso de fórceps. Dá uma olhada.

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Sobre o autor

Mariana Mendes