O mal de simioto está relacionada a casos de desnutrição aguda. Também conhecida como míngua ou doença do macaco, essa enfermidade não está nos manuais de medicina.
Conhecida popularmente entre as pessoas simples, principalmente no Mato Grosso, o mal de simioto é alvo de muita polêmica entre curandeiros, benzedeiras e profissionais da saúde.
Esta situação de debilidade geralmente é tratado em hospitais. No entanto, muitas pessoas entram em contato com tratamentos alternativos por meio de conselhos e dicas de familiares e amigos. É comum que se procurem benzedeiras para tratar o mal de somioto, no entanto, médicos especialistas não indicam esta prática.
Neste artigo, saiba mais sobre a origem do mal de somioto, conheça a polêmica que envolve essa crença popular. Veja se o mal de simioto deixa sequelas e saiba como são os benzimentos para o mal de simioto.
Mal de simioto ou desnutrição crônica?
O nome simioto vem da palavra “símio”, que significa macaco. Segundo a crença popular, bebês e crianças com estes problemas graves de desnutrição adquirem as feições de primata. Este fenômeno se dá pelas mudanças físicas que acontecem com a desnutrição.
Segundo estudo realizado em 2016 por profissionais da área de Enfermagem da Universidade Estadual do Mato Grosso, o mal de simioto não é uma doença catalogada pela medicina acadêmica. Este é um nome popular para uma situação que atinge principalmente crianças e bebês com problema de subnutrição.
Segundo o artigo, o problema acontece também devido à alergia em relação a proteína do leite da vaca ou à intolerância à lactose.
Saiba mais sobre os problemas de digestão do leite de vaca em bebês:
Outra possível causa para a desnutrição são as alergias a produtos derivados do trigo, além de parasitoses e infecções.
Segundo artigo do empresário Renato de Paiva Pereira, que faz um apelo à divulgação correta das informações sobre o mal de simioto, a divulgação do problema de maneira irresponsável pode aumentar o número de pessoas que se submetem a tratamentos alternativos em curandeiros e benzedeiras. Continue a leitura para saber mais sobre o assunto.
A desnutrição grave de nível hospitalar é, segundo o Ministério da Saúde, a causa de 25% dos óbitos de crianças no Brasil. Segundo a Organização Mundial da Saúde, esse percentual deveria ser de no máximo 5%.
De acordo com estudo publicado da Revista Brasileira de Nutrição, há pelo menos três tipos graves de desnutrição conhecidos pela medicina:
- Kwashiorkor: desnutrição causada por ingestão insuficiente de proteínas;
- Marasmo nutricional: desnutrição causada por falta de carboidratos e lipídios;
- Kwashiorkor-marasmático: uma combinação das duas formas de desnutrições descritas acima.
Para saber mais sobre os sintomas e causas da desnutrição associada ao mal de simioto, continue a leitura!
Quais são os sintomas do mal de simioto?
Confira alguns dos sintomas da desnutrição crônica associados ao mal de simioto:
- baixo peso para a idade;
- macrocefalia (cabeça proporcionalmente maior do que o normal);
- ausência de massa corporal;
- irritabilidade;
- apatia.
O que fazer caso meu filho apresente os sintomas do mal de simioto?
A primeira coisa é fazer um acompanhamento médico. É preciso investigar as causas da desnutrição. Veja uma lista de possíveis causas:
- alergia à proteína do leite da vaca;
- intolerância à lactose;
- alergia a produtos e alimentos derivados do trigo (glúten);
- outras alergias alimentares;
- parasitoses (doenças causadas por parasitas detectadas por meio de exame de fezes, por exemplo);
- infecções (causadas por fungos, bactérias ou vírus).
Como é o tratamento para o mal de simioto?
Segundo o Manual do Ministério da Saúde, os tratamentos para a desnutrição aguda podem variar. Entre as medidas iniciais para o tratamento de crianças com desnutrição aguda estão:
- controle da hipoglicemia (baixo nível de açúcar no sangue) e da hipotermia (diminuição excessiva da temperatura corporal);
- definição de metas nutricionais e de um esquema de alimentação que será dado à criança em casa ou no hospital;
- oferta de suplementos alimentares;
- uso de antibióticos para evitar infecções silenciosas.
Atenção: É importante não abandonar o tratamento nem desistir da investigação do médico em relação à causa da desnutrição. Se o profissional da saúde indicar suplementos vitamínicos, procure seguir corretamente as instruções e ofereça as vitaminas sem interromper o tratamento. Interromper o tratamento com antibióticos é muito prejudicial para a saúde da criança, porque pode fortalecer a doença e piorar o caso.
Mal de simioto deixa sequelas?
A desnutrição crônica entendida popularmente como mal de simioto, se não tratado corretamente pode causar danos ao desenvolvimento da criança. De acordo com estudo publicado na Revista Brasileira de Nutrição, a desnutrição é uma verdadeira vilã na evolução das crianças.
Veja quais consequências a desnutrição pode causar para o desenvolvimento infantil:
- retardo no crescimento;
- atraso no desenvolvimento do cérebro;
- retardo mental;
- baixa capacidade de resolver problemas;
- recorrência de infecções devido à imunidade baixa.
Saiba como aumentar a imunidade da criança e melhorar sua qualidade de vida:
Quais são os remédios caseiros para o mal de simioto?
A melhor forma de tratar a desnutrição entendida como mal de simioto é seguindo as orientações médicas. Entre as medidas caseiras mais comuns está a criação de uma dieta balanceada, rica em nutrientes e com a presença de alimentos frescos, como frutas, verduras e legumes.
No caso de crianças com debilidade que impede a alimentação, geralmente são receitados suplementos vitamínicos, barras de suplemento de proteínas e alimentos macios ou servidos em forma de papinha.
Como é o benzimento para o mal de simioto?
Uma prática muito comum no Mato Grosso, principalmente nas cidades de Cuiabá e Tangará da Serra, são os banhos para tratar o Mal de Simioto. Pesquisadores da Universidade do Estado do Mato Grosso conversaram com três famílias que aderiram a este tratamento alternativo.
De acordo com o estudo, esses banhos são indicados por familiares e amigos próximos que acompanham o drama da criança. Essas pessoas são indicadas a curandeiros, benzedeiras e diversos outros tipos de pessoas que oferecem estes banhos.
A crença popular é que a doença do macaco é causada por “vermes” que supostamente se instalam na pele da criança. Antes de iniciar o tratamento, o cuidador alternativo realiza um teste no qual se aplica a infusão de ervas seguido de uma massa feita de farinha de óleo vegetal, trigo, água e fermento numa pequena área. Ao passar a mistura na pele da criança e depois retirar a pasta, aparecem os “vermes”, que surgem como grânulos que podem ser brancos, vermelhos ou pretos.
Segundo comentários num vídeo de um farmacêutico que aplica os banhos, há muitos curandeiros que cobram valores altos pelo tratamento. Os valores variam de R$100 a 300 reais pelo tratamento. No entanto, também existem pessoas que aplicam estes banhos de maneira gratuita.
O banho é feito a partir do chá preparado com 9 ervas, que devem ser doces e não amargas, segundo os pais das crianças entrevistados na pesquisa. A criança deve ser banhada nesta infusão ainda quente (em temperatura agradável para não causar queimaduras). Em seguida é aplicada a pasta quente feita com óleo de oliva, farinha de trigo, fermento e água. As receitas podem variar muito de um curandeiro para outro. Ao retirar a pasta da pele, segundo a crença da população, saem da pele da criança os “vermes”.
Não há comprovação científica de que esta substância que sai da pele da criança são vermes. Na verdade, é muito provável que esses grânulos sejam secreções da pele já sensível e debilitada da criança que são expelidas como resposta ao estímulo das ervas e da pasta aplicadas. Mas não há nenhuma investigação científica que possa comprovar esta hipótese.
O tratamento é realizado várias vezes por semana até que não se constate mais a saída da substância da pele da criança.
De acordo com o estudo os pais das crianças sentem-se intimidadas pelos profissionais da saúde e muitos não revelam que realizam o tratamento alternativo. Outros chegam a deixar de lado o tratamento profissional e se dedicam apenas aos banhos.
Procurado por nossa equipe, o Professor do curso de Graduação da UNEMAT, comentou:
O que ocorre é que muitos pais tratam suas crianças com o Mal de Simioto, e se as crianças melhoram com o tratamento, ele não sentem necessidade de procurar por serviços profissionais de saúde, afinal, boa parte dos pais que veem o mal estar dos filhos como Mal de Simioto, não associam o quadro da criança com a desnutrição, ou a necessidade de vitaminas.
Para os pesquisadores, o ideal é que a equipe médica esteja aberta a ouvir e compreender a realidade cultural dos pacientes. Assim, é possível combinar o tratamento alternativo com a realização do cuidado profissional, evitando que os pacientes abandonem as orientações médicas.
Por isso, se você está passando por esta situação com seu filho e quer aderir aos banhos medicinais, saiba que sua escolha religiosa e cultural deve ser respeitada. No entanto, é muito importante não abandonar o tratamento médico especializado e seguir com as orientações dos profissionais.
Dessa forma, você garante o melhor para sua família, tratando a doença com todos os recursos possíveis, certo?
O que você acha dos banhos para tratar o mal de simioto? Acredita que eles realmente funcionam? Escreva nos comentários!