Hoje nós vamos falar sobre um assunto polêmico: bebês chorando em público. Já faz um tempo que este tema tem gerado muito debate na internet. Há restaurantes pelo mundo que estão até proibindo a entrada de crianças para evitar que elas incomodem os adultos do recinto.
Neste artigo quero falar especificamente sobre os bebês, seu choro em público e como algumas pessoas se incomodam muito com isso.
Minha proposta é, como mãe de um bebê de 7 meses, mostrar alguns pontos para que quem não têm filhos e se incomoda com o choro do bebê, possam refletir um pouco sobre essa questão.
O choro do bebê em locais públicos:
Neste trecho do vídeo, a Dra Luciana Herrero, Pediatra que possui um canal no YouTube e já escreveu livros sobre o tema para ajudar mães e gestantes nessa etapa de suas vidas, recebe uma pergunta de uma moça:
“Não há nada mais irritante numa viagem à noite do que choro do bebê dentro do ônibus”, diz a espectadora do programa Tribuna Independente, quando faz uma pergunta para a Pediatra Dra Luciana Herrero. Ela quer saber o que fazer para ajudar nessa situação.
A resposta da médica é extremamente adequada. Ela fala sobre como estamos ficando intolerantes com os bebês. Sobre como esperamos que os bebês se comportem como uma miniatura de um ser humano. A doutora ainda fala sobre a falta de respeito que existe para com a fisiologia dos bebês. Os bebês precisam de acolhimento e precisam ser entendidos, afirma ela. E para finalizar, a especialista faz um pedido por paciência.
Antes de ser mãe, eu sabia quase nada sobre como os bebês se desenvolvem. Quase não havia bebês no meu círculo de relações, além de minha sobrinha. E, para falar a verdade, mesmo com minha sobrinha eu tinha um distanciamento grande sobre a maternidade e fui mergulhar nesse assunto e entender de fato muitas coisas apenas depois que tive meu filho.
Na época de nossos pais, a criação dos filhos era algo mais coletivo. Qualquer adulto poderia conversar com uma criança e orientá-la sobre respeito, postura e tudo mais. Hoje em dia, temos uma criação mais restrita à família e à escola. Isso faz com que as pessoas que não têm filhos tenham pouco ou nenhum contato com bebês e crianças.
Essa falta de conhecimento em relação aos bebês e até estranhamento (que eu confesso que também sentia antes de ser mãe), somado com o cansaço do dia-a-dia e o estresse, pode gerar uma reação de rejeição aos pequenos.
Por isso, resolvi escrever alguns motivos para se ter mais paciência com os bebês e seu desenvolvimento para contribuir para que haja, como a Dra Luciana disse muito bem, mais tolerância e empatia em relação ao bebê que chora em público e seus cuidadores.
1. É preciso ser o adulto da situação:
É fácil repetir inúmeras vezes que é preciso ter paciência com os bebês. Precisamos entender porque precisamos abrir mão de nossas necessidades de pessoa adulta e ocupada, pelo menos um pouco, para dar espaço às necessidades da criança.
O bebê, como a doutora bem explicou no vídeo, é um ser em desenvolvimento. Os primeiros três meses de vida são de adaptação à vida extra-uterina, segundo a teoria da extero gestação. Há pouquíssimo tempo atrás ele ainda estava dentro da barriga da mãe, num ambiente quentinho, recebendo alimento o tempo todo por meio do cordão umbilical. De repente, ele se viu num ambiente seco e frio, com fome e desorientado.
O bebê não nasce com o controle das emoções nos trinques, certo? Essa é uma habilidade que vamos desenvolvendo ao longo da vida. Até os 2 anos de vida, o bebê ainda não possui o desenvolvimento cerebral capaz de controlar as emoções e é a partir dos 3 anos que ele começa a aprender a fazer isso. A partir do segundo ano de vida é o momento de ensinar os limites com mais consistência, de explicar o porquê dos “nãos” e ser firmes, porém gentis com a criança.
Veja: se você é um dos adultos da situação, procure exercer sua inteligência emocional. Se coloque no lugar desse pequeno ser humano em desenvolvimento e pense no quão imaturo ele ainda é em relação a você. Ele ainda não é capaz de entender que está incomodando seu descanso ou atrapalhando sua conversa descontraída no jantar entre amigos. Ele está apenas expressando um incômodo.
Por isso, toda vez que um bebê estiver chorando em um local público em que você estiver presente, procure pensar: “Ei, eu sou o adulto da situação, eu tenho condições de controlar minhas emoções e abrir mão de minhas necessidades em favor de um ser que ainda não consegue fazer isso”.
Neste vídeo do canal do Paizinho Vírgula, ele fala um pouco sobre como lidar com esses momentos. Se você tem um bebê, assista, porque pode te fazer refletir:
2. O choro é um meio de comunicação:
Neste vídeo, a psicóloga Isabela Minatel, também especialista e autora de livros na área, fala sobre como o bebê ainda novo não tem condições de fazer birra. A malícia está nos olhos dos adultos, porque segundo a docente da pós-graduação da FGV, o choro é um mecanismo de comunicação.
Ninguém nasce sabendo falar. A linguagem é outra habilidade que aprendemos com o tempo, com o treino, com a vivência, não é? O bebê possui o choro como a única maneira de tentar se comunicar com os adultos, de dizer se está com dor, se está passando mal, incomodado com a roupa, com uma coceira no nariz ou algo pinicando suas costas.
Quando eles são bem novinhos, ainda não possuem coordenação motora para diminuir estes incômodos. Eles são totalmente dependente dos pais para garantir seu bem-estar. E, é preciso dizer, nem sempre os pais conseguem descobrir o que há de errado. Cuidar de um bebê, na verdade, é um exercício constante de tentativa e erro: você troca a fralda, tira a roupa, coloca roupa, dá de mamar, dá colo, tira do colo, enfim, vai tentando ver o que funciona para o bebê ficar confortável.
Por isso, quando um bebê estiver chorando no mesmo ambiente público que você, lembre-se de que é uma tentativa desesperada para tentar comunicar algo. Procure imaginar que você está na China e não fala mandarim nem inglês e precisa dizer que está com um incômodo muito grande e precisa de ajuda. Já seria complicado e estressante, não é? Agora imagine que você não consegue se mover nem gesticular para expressar o que você precisa.
3. Empatia é a chave:
Ainda naquele vídeo, a especialista traz uma nova definição de empatia: ter empatia não é apenas fazer para o outro o que você gostaria que fosse feito para você. Ter empatia é um tanto mais complicado: é fazer para o outro o que ele, nas condições em que está, no nível de desenvolvimento em que está, precisa que seja feito por ele. Profundo, né?
Agora, vamos fazer um exercício de empatia? Pense na mãe (ou quem estiver cuidando do bebê) que é alvo de críticas e julgamentos o tempo todo, que está há meses sem dormir direito, que está abrindo mão de muitas coisas para acolher e cuidar deste bebê. Do que ela precisa? Talvez ela precise de apoio, carinho e compaixão.
“Mas ela escolheu ter um bebê, tem que lidar com as consequências”, você pode até pensar. E aí eu te respondo: lidar com as consequências é necessariamente ser hostilizada, impedida de ir nos locais por conta do bebê e culpabilizada por uma coisa que é natural no desenvolvimento do ser humano? Acho que não.
Lidar com as responsabilidades da criação dos filhos é fazer isso todos os dias, apesar de todas as dificuldades. Contar com a compreensão e o apoio das pessoas ao redor é algo que nos faria mais humanos e mais adultos também.
Então, vamos lá: quando um bebê estiver chorando próximo a você num local público, reflita: “Será que eu não posso compreender o momento desse bebê e dessa mãe e ter um pouco de paciência?”.
Se você tem um bebê e já passou por constrangimentos em momentos em que seu bebê chorou em público e gostou das dicas deste artigo, compartilhe e ajude a paciência e compreensão a florescer! Também fique à vontade para deixar sua opinião nos comentários!